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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O GRANDE TAMBOR



A trajetória do que poderia ser considerado um simples instrumento se transforma numa jornada de descobrimento de processos históricos que teimam em contrapor a verdade idealizada daquilo que se considera oficial no Rio Grande do Sul. Com um toque grave e de grandes proporções, o Tambor de Sopapo, hoje montado principalmente pelas mãos do pelotense Mestre Batipsta, não deixa morrer a memória das traições, do genocído do povo negro e, acima de tudo, da sua grande e essencial contribuição cultural para o estado e para o Brasil. As mãos que hoje massageiam o couro, que retumbam distante o som inconfundível do pampa gaúcho, são as mesmas que há séculos foram retiradas de seus lares em algum lugar de uma África distante e que construíram a suor e muito sangue as riquezas e o imaginário que nunca lhes pertenceram.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

edição do documentário O GRANDE TAMBOR

O processo de edição pode ser considerado um dos momentos decisivos da produção de um audiovisual. Neste momento tudo, tudo mesmo pode entrar no ritmo certo ou não. E esta responsabilidade se multiplica quando se trata de um assunto tão importante e, ao mesmo tempo, tão relegado por quem escreve a história oficial.
Precioso material, o documentário O GRANDE TAMBOR vem sendo construído pelas mãos e sensibilidade da montadora Têmis Nicolaidis. Ela agora nos dá mais esse gostinho... mais um pedacinho pra nos deixar com vontade de quero mais.
Assiste ai!



Como o Projeto Tambor de Sopapo está fervilhando entre nós a medida que se aproxima o lançamento em novembro, muito vem sendo produzido nas últimas semanas.
Abaixo um pouco mais das gravações da trilha sonora.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010



O GRANDE TAMBOR, documentário longa-metragem realizado pelo Coletivo Catarse, traz a história do Sopapo e resgata uma das marcas culturais dos negros do RS. Herança dos escravos, o Tambor de Sopapo ecoa pra ser reconhecido, soa pra ser lembrado na própria terra que o recebeu.
O Tambor de Sopapo está na raiz da história do extremo sul do Brasil. Desde as charqueadas até o embalo dos carnavais de rua de Pelotas e de avenida em Porto Alegre. No entanto, a partir dos anos 1970, o processo de carioquização do carnaval brasileiro fez com que este instrumento de difícil construção e de grande porte fosse substituído por instrumentos conhecidos como surdos, também de sonoridade grave e com processo de construção insdustrializado.
No ano de 1999 havia apenas 3 tambores de sopapo identificados no estado do Rio Grande do Sul. Em 2000 e 2001, foram realizadas, então, duas edições do Projeto CABOBU em Pelotas, através da ação do músico Giba Giba, chamando a atenção para a possível extinção do instrumento.
Com intuito de preservar uma das marcas importantes da cultura negra sul-riograndese, o Coletivo Catarse, em convênio com o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, lançará ainda uma cartilha, um livro com degravações de entrevistas e um banco sonoro.
O Coletivo Catarse se junta a Mestre Baptista, Giba Giba e Richard Serraria para que o sopapo sopape nossos ouvidos, pra que a gente possa dançar ao som de um tambor que é a nossa história.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O GRANDE TAMBOR

Recentemente o projeto de resgate histórico do tambor de sopapo iniciou uma nova e importante etapa. O documentário, agora batizado de O GRANDE TAMBOR, começa a tomar forma nas mãos da montadora Têmis Nicolaidis, que agora nos dá um gosto com as sábias palavras de Giba Giba.



Chegou o momento de reunir as informações, as imagens, os sons para decidir o quê e como irão compor o livro, a cartilha e o banco sonoro que resultam o projeto. Intenso trabalho pro nosso designer e ilustrador, Rafael Corrêa (clique aqui e conheça o blog do Rafael).

E toda equipe, em especial a produção, se prepara para o lançamento em novembro. Que tá logo ali!

Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.


Clique aqui e veja mais fotos.

domingo, 16 de maio de 2010

A produção do charque e o Sopapo

O Coletivo Catarse esteve em Pelotas realizando mais gravações do documentário sobre o Tambor de Sopapo e entrevistou uma Mãe de Santo, a Tia Maruca, e a sua filha Juraci, que também é presidente da escola de samba fundada pelo Mestre Baptista há 16 anos, a Imperatriz da Zona Norte.


Tia Maruca nos contou um pouco das culturas de matriz africana, do sincretismo gerado pela opressão católica e dos rituais africanos que ajudaram os negros escravizados a suportar o campo de concentração de produção de charque em Pelotas.

Ela falou da importância do tambor ser tocado no ritual: "O tamboreiro não pode parar". Sobre o ritual de sacrífício de animais, salientou na implicância de um grande conhecimento da maneira de se matar sem gerar sofrimento para o animal, de se recolher o sangue, se retirar o couro e preparar o alimento para ser consumido depois. Os rituais de sacrifício sempre existiram, desde a mãe África, se dividindo tarefas entre as pessoas mais aptas - uma espécie de divisão do trabalho que foi também sendo utilizada nas charqueadas para a matança do gado.


Aliás, segundo Tia Maruca, matar um boi, na ritualística afrodescendente, é a maior oferenda que se pode dar a uma entidade. O sacrifício de um animal deste tamanho é muito complicado, exigindo muito conhecimento e espiritualidade, não sendo qualquer um que faz.

Neste sentido, é impossível imaginar o desenvolvimento da indústria do charque, que sacrificava 600 animais por dia, em 30 empreendimentos, sem que os envolvidos não detivessem um certo conhecimento "tecnológico" da matança proveniente da memória de rituais africanos trazidos pelos negros escravizados.


Tia Maruca explicou-nos também que o ritual é feito da meia-noite ao meio-dia, da chamada "hora grande" à "hora grande". Ao final, consagra-se o sacrifício aos deuses tocando-se o tambor, assim como descreveu Nicolau Dreys, um inglês que esteve em Pelotas por volta de 1839: "Na estação da matança, isto é, de novembro até maio, o trabalho das charqueadas principia ordinariamente à meia-noite, mas acaba ao meio-dia, e tão pouco cansados ficam os negros que não é raridade vê-los consagrar a seus batuques as horas de repouso que decorrem desde o fim do dia até o instante da noite em que a voz do capataz se faz ouvir." (Dreys, Notícias Descritivas, 1839, p.202-205).

Aquarela de Wendroth intitulada dança dos negros em Pelotas, de 1857.

Publicado por Sérgio Valentim
Fotos: Leandro Anton/Quilombo do Sopapo